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- A Alienação e os Quadrinhos
Posted by : Fundação Gibiverso
Mas, afinal, o que é
mídia?
Mídia é toda e
qualquer forma de comunicação que atinja mais de uma pessoa. Um discurso, um
livro, um filme; e quadrinhos. Essa mídia adorada e que parece tão inofensiva
também é recheada de informações distorcidas e de verdades duvidosas. Seja por
visões unilaterais ou por verdades absolutas, a imparcialidade passa longe das
histórias. E o maior exemplo disso, inegavelmente, é a Marvel.
Inaugurada em 1939 sob o título de Timely Comics, a empresa já contava com personagens como o Capitão América, ícone majoritário do patriotismo estadunidense, que derrotava nazistas e soviéticos em uma visão singular e maquineísta da realidade, a ponto de por vezes ser referido como “Defensor da Liberdade”. Sua função era adular os soldados que iam para a guerra e, claro, vender gibis. Afinal, em meio ao caos de armas, eram vários os jovens que iam para terras desconhecidas enfrentar “inimigos”. E o Capitão América fazia a perfeita caracterização, aproximando-se dos leitores e criando proximidade e empatia, não apenas com os jovens soldados, mas também com seus conhecidos, amigos e parentes, que se identificavam na revista e colaboravam com os lucros da empresa.
Inaugurada em 1939 sob o título de Timely Comics, a empresa já contava com personagens como o Capitão América, ícone majoritário do patriotismo estadunidense, que derrotava nazistas e soviéticos em uma visão singular e maquineísta da realidade, a ponto de por vezes ser referido como “Defensor da Liberdade”. Sua função era adular os soldados que iam para a guerra e, claro, vender gibis. Afinal, em meio ao caos de armas, eram vários os jovens que iam para terras desconhecidas enfrentar “inimigos”. E o Capitão América fazia a perfeita caracterização, aproximando-se dos leitores e criando proximidade e empatia, não apenas com os jovens soldados, mas também com seus conhecidos, amigos e parentes, que se identificavam na revista e colaboravam com os lucros da empresa.
Na mesma linha, temos Tony Stark. Muitos que o aclamam hoje desconhecem o passado do herói, nem sempre tão heróico. Ícone na indústria armamentista durante a Guerra do Vietnã, projetava armas para o lado capitalista e fez dos vietcongues os seus inimigos, adaptados para o filme de 2008 como terroristas árabes, a pedra no sapato dos EUA no presente. Logo, seus maiores inimigos não poderiam ser outros que não os socialistas: chineses, soviéticos, vietgongues e latinoamericanos. Ao longo do tempo, essa imagem direitista foi se suavizando, devido às críticas que recebia por ser muito radical, um perigo que tangia os nem tão longíquos fascismos. Porém, ainda que menos deflagrado, o ódio anti-socialista manteve-se, mas menos notório. Percebe-se, afinal: quem são os vilões da trilogia cinematográfica? Russos, chineses, e árabes vestindo a carapuça dos vietnamitas.
Em tempos de guerra, era preciso propagandear o estilo de vida americano, salientando os benefícios do capitalismo, o quão bom era o american way of life. Se na Segunda Guerra havia a preocupação da imprensa em fomentar o medo e o ódio aos nazistas, o mesmo ocorreria, dessa vez com os soviéticos, durante a Guerra Fria, período em que as grandes potências econômicas, Estados Unidos e União Soviética, polarizaram o mundo e fomentaram guerras a fim de preservar ou estabelecer o seu regime econômico. O assunto é complexo, e será retratado melhor e com maior ênfase futuramente, pois foi grande a sua participação nos quadrinhos. Todavia, é durante a Guerra Fria que muitos dos personagens icônicos da Marvel surgiram, tais como Homem-Aranha, Hulk, Homem de Ferro e Quarteto Fantástico, muito influenciados pelo conflito, fosse pelos temas de radiação que explicavam o surgimento dos heróis, fosse pelos inimigos que enfrentavam. No caso de Tony Stark e de Steve Rogers, o Capitão América, os roteiros eram claros e tinham o objetivo pleno de entreter e moldar a cabeça das crianças para que seguissem o lado capitalista, com inimigos socialistas, abusando da “ameaça comunista”, muito salientada após a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962. Com outros personagens a abordagem foi mais suave, mas sempre houve a premissa de servir de propaganda capitalista. Foram poucos os casos sem esse intuito, tal como nas revistas do Homem-Aranha.
Claro, esse fardo não pesa somente sobre os ombros da Marvel. Durante a Segunda Guerra, quase todos os quadrinhos estampavam seus heróis dando surras no lado contrário, sobre tudo contra os nazistas. A National Periodical Publications, hoje intitulada DC Comics, foi campeã em tal empreitada. Além de promover inúmeros heróis no combate contra o fascismo, distribuía suas histórias entre os soldados, que muitas vezes aprendiam a ler com suas páginas, que serviam de entretenimento acessível e barato nos campos de batalha, além de poderem ser distribuídos entre os civis dos países dos combates, principalmente entre as crianças, com o intuito de ser um sinal de amizade e de propagandear os super-heróis. Não foram poucos os casos em que Batman e Superman apareceram em capas combatendo os fascismos. Mais: a Mulher Maravilha surgiu nessa época, daí suas vestes com as cores dos Estados Unidos e a águia característica em seu peito e escudo.
Todavia, é preciso notar que isso pertence ao passado da DC. Hoje, suas HQs possuem um empenho crítico muito superior aos da Marvel, com críticas diretas ao Governo, aos jornais e o funcionalismo do sistema como um todo. O mesmo, porém, não ocorre com a Casa das Ideias, que persiste com nacionalismo estrábico. Um bom exemplo é o arco A Morte do Homem-Aranha, que envolve Ultimate Homem-Aranha e Vingadores VS Novos Supremos. Um arco realmente muito bom, divertido, dinâmico e imprevisível, roteirizado pelo premiado Mark Millar e por Brian Bendis. Todavia, um arco que permanece na esfera nacionalista, que carece da profundidade política que se propõe a caracterizar e que saúda de forma míope as intervenções e quaisquer medidas geopolíticas promovidas pelos Estados Unidos.
É nítido que a Marvel corrobora cegamente com os preceitos norte-americanos, com ideais sempre capitalistas. Ela é, então, uma bolha de conspurcação que visa alienar e controlar ideologicamente o subconsciente dos leitores, em uma mimetização realística dos feitos imaginados, e talvez previstos, por Aldous Huxley, em Admirával Mundo Novo? Não. O que ela almeja, assim como qualquer outra empresa, é lucro. Portanto, aproxima-se do leitor, tenta repassar o ambiente que vive de uma forma mais fantástica e heróica, mas que ainda garanta identificação por parte de quem lê. A Marvel, portanto, é um retrato pintado pelo povo estadunidense, onde a maioria é alienada e não-contestadora, bebendo sem juízo o que lhe for oferecido, seguindo sempre o american way of life.
Ambas as empresas, Marvel e DC Comics, em algum momento de suas vidas, versaram-se da geopolítica pró-Governo para se promover e atrair público. Todavia, enquanto a Casa das Ideias permanece estagnada em sua maturidade roteirística, a DC, bem como sua filha Vertigo, evolue. Ler quadrinhos é bom, e não sou poucas as vezes em que aprendemos algo relevante para nossas vidas. Porém, é preciso certo cuidado e algum grau de criticismo para apreciar inteiramente: não só como entretenimento, mas como obra, fazendo jus a alcunha de 9ª Arte. Por fim, o intuito deste artigo é tornar mais clara a presença da alienação nas HQs, permitindo não se influenciar cegamente, tornando a leitura mais madura e mais proveitosa.